- É verdade que a gestão do tempo, enquanto problema, afecta mais as mulheres do que os homens? Porquê?
- A sociedade ainda impõe mais responsabilidades às mulheres do que aos homens. O problema da gestão do tempo também afeta as mulheres que não têm uma profissão e um trabalho fora de casa?
- No caso das mulheres que trabalham fora de casa, como é que podem aprender fazer uma melhor gestão do seu tempo entre vida familiar e profissional sem se sentirem assoberbadas e culpadas?
Para além da caracterização do problema parece-nos mais importante o foco na solução.
De acordo com um estudo realizado por uma investigadora Kristen Shockley (2017), da Universidade da Georgia, nos EUA, contrariamente à perceção de senso comum e a muita informação que circula nos media, quer as mulheres quer os homens experienciam conflito na relação trabalho família. Pode ser mais aceite socialmente e expectável que as mulheres verbalizem este conflito, mas os homens sentem exatamente o mesmo tipo de conflito no que toca ao tempo dedicado à família e ao trabalho.
Esta paridade no que toca ao conflito trabalho família não invalida sejam ainda as mulheres que dedicam mais tempo do que os homens às tarefas domésticas. De acordo com a OIT, Organização Internacional do Trabalho (OIT), as mulheres que estão empregadas também dedicam, em média, 4,25 horas por dia ao trabalho doméstico e aos cuidados familiares, enquanto os homens gastam 1,23 por dia no mesmo tipo de tarefas. Segundo este mesmo relatório 21,7% das mulheres dedicam-se a tempo inteiro ao trabalho doméstico e a cuidar da família, sem qualquer remuneração, enquanto apenas 1,5% dos homens estão nesta situação.
A conciliação do tempo dedicado à família e ao trabalho afeta em Portugal mais as mulheres do que os homens. Segundo um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos a sobrecarga de tarefas das mulheres portugueses têm consequências a nível individual, conjugal, familiar e laboral. O sentimento de exaustão causado por esta sobrecarga de tarefas frequentemente não permite que muitas mulheres portuguesas
disfrutem nas várias esferas da sua vida com consequências ao nível do relacionamento com o cônjuge, com os filhos, com colegas de trabalho.
Por vezes as mulheres agem coma noção de que têm de fazer tudo a bem da família. Esta crença que gera uma série de pensamentos automáticos e emoções que levam as mulheres a realizarem muito mais para além dos seus limites, não podia ser pior para a família. O cansaço, a exaustão, deixa-nos pouco disponíveis para o outro seja ele o parceiro, os filhos ou ambos.
Na geração que tem hoje 40/50 anos, de meio urbano e que já foi educada e formada para a independência económica e profissional a repartição das tarefas domésticas não é uma realidade. É curioso, rapidamente verbalizamos relativamente a um casal: e o Pedro ajuda em casa? Raramente ouvimos esta resposta por parte da mulher, ele não ajuda é parceiro!! Ainda temos inscrito nos nossos registos mentais automáticos a ideia de quão maravilhoso um marido pode ser porque colabora nas tarefas domésticas.... Esperamos que nas gerações mais jovens a ideia seja: desempenhamos os 2 tarefas em casa porque somos parceiros e cabeças de casal/família.
Para além do diagnóstico é muito importante focarmo-nos em princípios e estratégias de resolução deste panorama. As mulheres precisam desfazer-se do preconceito que têm de fazer tudo!! É importante pedir ajuda e aprender a delegar, a pedir. O outro não tem de adivinhar os nossos pensamentos e desejos! No vórtice de fazermos tudo às vezes comunicamos ao outro que não necessitamos da sua ajuda. Instala-se assim um padrão relacional e comportamental. Este mesmo padrão é promotor de insatisfação e conflitos.
É muito importante educarmos os nossos filhos no princípio e na prática de que meninos e meninas participam ambas ativamente nas tarefas domésticas. Não pode ser esperado que os rapazes fiquem a ver televisão enquanto que as raparigas da casa gritam e protestam por serem sempre elas a tratar do jantar!! Na escola precisamos sedimentar estes princípios nas práticas educativas.
Também é curioso que muitas vezes ouvimos algumas mulheres dizerem: acabo por ser eu a fazer tudo porque eles (parceiro e filhos) não fazem as coisas bem. Faço para não os ouvir a protestar. Faço para não fazer duas vezes porque quando eles fazem tenho de fazer por cima!!
Nós mulheres temos de exercer um papel educativo e formativo mais efetivo para com o nosso parceiro(a), a nossa família ... É preciso confiar na nossa capacidade de promover mudanças e na capacidade dos outros para mudar ... A mudança custa, demora tempo mas pode ser muito compensadora para as mulheres, para os seu parceiros e parceiras, para os filhos, para a família, para a sociedade.
Conceição Nobre
Psicóloga, Psicoterapeuta
Ph+
Comentários